A minha época...

Recentemente, tive uma conversa em que percebemos uma coisa que afeta principalmente o pessoal que já passou dos 30 (o que já foi há 12 anos, no meu caso).

Nós falávamos sobre a Pitty, sobre duas músicas do primeiro disco dela, quando nos tocamos de que esse disco havia sido lançado em 2003! É, o disco já treze anos! E avançamos para falar sobre Franz Ferdinand, cujo primeiro álbum é de 2004. E eu mencionei Surfando Karmas e DNA, dos Engenheiros do Hawaii, de 2000. Lembrei também da KT Tunstall, mas não soube precisar a data do primeiro disco (acho que 2006, é o que tem "Suddenly I see"). 

O que todos eles têm em comum?

São todos discos novos. E mais: fora o Engenheiros, esses artistas também são novos. Para nós, claro.

Aí, a gente olha as datas e, não, de jeito nenhum que esses álbuns são novos! O mais novo dessa lista está na casa dos 10 anos, e olhe lá! Mas, então, por que essa sensação de que tudo isso acabou de sair?

Fomos trocando figurinhas, tentando achar de onde vem esse problema de percepção cronológica, até que esbarramos naquela história de "isso não é do meu tempo". Bingo!

Bom, talvez não bingo, mas a gente conversou e afundou um pouco nesse papo de "meu tempo". Acabamos chegando numa possível definição para isso: é quando a gente curte as coisas sem o peso de um passado!

Tipo: a gente nasce, vira criança, vai crescendo, e tudo é novo, tudo nos maravilha por ser a primeira vez - que, muitas vezes, é mais de uma primeira vez, porque a memória das crianças não dura tanto (lembro de ter explicado duas vezes para o meu sobrinho porque eu era tio dele, com coisa de um ano de intervalo)!

Só que a gente vai crescendo,...

Aí, chega na (pré-)adolescência. Nesse momento, a memória já está mais estabelecida, pronta para armazenar de vez coisas novas. Não só - os hormônios começam a ter mais efeito, tudo começa a ficar muito mais intenso! E, no meio desse turbilhão, você começa a ver determinados filmes, seriados, ler determinadas revistas, ouvir determinadas músicas...

Antigamente, você ouvia no rádio, ou por sugestão de um amigo seu. Um pouco depois disso, pela MTV. Mais modernamente, pela Internet, mas não importa: nesse momento tão importante, tão marcante, de sentimentos multiplicados, de afirmação da identidade, da passagem da criança para o adulto, essas músicas entram em você e lá ficam! E ficam juntinho com os momentos, bem grudados!

Só que o tempo continua passando...

Num belo dia, você já fez sua faculdade e recebe a notícia de que sua banda favorita está lançando seu quarto ou quinto álbum. No mesmo site, a notícia de uma banda de que você nunca ouviu falar, mas que o pessoal que agora estuda na escola em que você estudou acha o máximo! Você até acaba ouvindo a música, gosta, acha legal, mas aquilo não te emociona tanto. E não entende como é que o pessoal paga tanto pau para essa banda. O que está acontecendo?

Está acontecendo que você já tem uma carga de passado. Já tem muita coisa gravada em você. Os seus hormônios, suas emoções, já não estão mais naquele ritmo de antes. O que tinha de mais importante para marcar você já aconteceu. E já tem um monte de música preenchendo os espaços da "trilha sonora" de tudo de novo e bom (e/ou ruim) que já houve na sua vida. Então, quando você ouve uma música nova, ela não vai ficar em você - pelo menos, não como as músicas antigas - porque não há mais "slots" livres para elas.

A sua época passou.

Para dar um exemplo pessoal, eu cresci ouvindo a-ha. Melhor dizendo, quando eu era pequeno, gostava de "Hunting High and Low" e "Cry Wolf" sem saber que eram deles. Só fui saber no final da década de 80, em 1988: eu ouvia a Jovem Pan 2, de São Paulo, que fez uma vasta divulgação do disco que o a-ha estava lançando na época, o Stay on These Roads, já preparando o terreno para os shows que a banda faria no Brasil em 1989. E essa divulgação incluiu tocar as músicas antigas, também!

Sabem, hoje, eu tenho todos os discos do a-ha. Mas os três primeiros - Hunting High and Low (1986), Scoundrel Days (1987, que tem "Cry Wolf") e Stay on These Roads - me levam para aquela época, sempre que os ouço! Nem que seja por menos de um segundo, mas eu volto para aquele momento de início da adolescência!

Me perguntem se eu gosto mais de Rolling Stones do que de a-ha! Me perguntem se eu gosto mais de Tom Jobim do que de a-ha!

Quanto à coisa do tempo, não chegamos a conclusão nenhuma, no final, mas, como a gente não grava tanto essas músicas novas e como, nesta idade, o tempo voa, acho que a gente simplesmente não percebe que passou tanto! E, cada vez que olha as datas de lançamento, toma aquele susto...

Ah, sim, a música que originou a conversa foi "Máscara", da Pitty!


Espero que vocês tenham conseguido curtir bem o seu tempo, ou que curtam bem o seu tempo, para quem está nele...


Comentários