Engenheiros do Hawaii - "Simples de Coração" (1995) *****

Sabem, eu sou oitentista, como vocês já devem saber. E convicto! Mas devo admitir que o meu disco favorito de uma dos Engenheiros do Hawaii, uma das minhas bandas favoritas, é de 1995: "Simples de Coração"! É o disco deles que eu mais ouvi até hoje, disparado - e acho que, hoje, descobri o que ele significa para mim: trata-se de um disco de reencontro.

As núsicas, compostas por Humberto Gessinger, trazem uma busca de auto-afirmação, algo como um eu-lírico que sente necessidade de se redescobrir e se redefinir. Isso transparece, por exemplo, no verso "Eu sou um déspota esclarecido/nessa escura e profunda mediocracia", que faz parte da primeira faixa, Hora do Mergulho - aliás, em boa parte da letra! Quer mais um exemplo? A faixa seguinte, A Perigo, que reza "Eu sigo em frente, pra frente eu vou/eu sigo enfrentando a onda/onde muita gente naufragou". Em primeira pessoa. Talvez não tão simples, mas de coração, com certeza.

Outra coisa nessa busca por redefinição: a volta às raízes! O disco emana o Rio Grande do Sul, e não só na constante gaita. A faixa Por Acaso traz "Da janela do avião, eu vejo Porto Alegre/Vejo o futuro em flash-back/meu pai, minha filha, nossa casa". Será uma vontade de repetir o passado no futuro? Levar minha filha para passear na Redenção (um dos lugares da cidade citados na música) assim como meu pai fazia comigo? O passado é seguro - já sabemos como ele foi.

Somando tudo isso, está a faixa Ilex Paraguaiensis - nome científico da erva mate! A música começa com "hoje eu acordei mais cedo, tomei sozinho o chimarrão". Coisa de que em está em casa, confortável, querendo relaxar... Mas culminha em "se pensam que as minhas mãos estão presas (surpresa!)". Será uma vontade de afirmar (para si mesmo?) que ainda tem "garrafa vazia pra vender"?

Opa! Lembrei! "Simples de Coração" é o primeiro disco após as confusões que culminaram na saída do guitarrista Augusto Licks, deixando Gessinger e Carlos Maltz, baterista, que reformularam os Engenheiros (nesse álbum, um quinteto, com Ricardo Horn, Fernando Deluqui - aquele mesmo, do RPM - e Paulo Casarin). E os dois "originais" não eram mais adolescentes!... Sem falar que Gessinger já era até pai! Será que é por isso que a faixa-título tem "Esquecemos o que somos: simples de coração"?

De qualquer forma, um discaço! Seguramente não simples (pelo menos, não so sentido estrutural), mas seguramente de coração, o que garante o álbum da primeira à última faixa! Aliás, o finalzinho é muito bonito! Esse sim, simples, de coração! Vale ouvir!

Eu, da minha parte, sei que ainda vou ouvir esse disco várias e várias vezes, ainda...

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